Resenha: Nossa Noites


Addie Moore e Louis Waters são dois viúvos septuagenários e vizinhos no pequeno condado de Holt. Um dia, cansada de sua solidão, Addie faz uma proposta um tanto inusitada a Louis: que ele venha a sua casa todas as noites para que eles possam dormir juntos, no sentido literal do verbo.

"Não, sexo não. Não é essa a minha ideia. Acho que perdi todo e qualquer impulso sexual já faz muito tempo. Estou falando de ter uma companhia para atravessar a noite, para esquentar a cama. De nós nos deitarmos na cama juntos e você ficar para passar a noite. As noites são a pior parte. Você não acha?"

Louis fica um pouco hesitante, mas acaba aceitando, já que ele também se sente da mesma forma e assim começa uma nova rotina em suas vidas. Toda noite Louis aparece e após beberem alguma coisa, vão para a cama conversar e dormir. 

Ao fazerem companhia um para o outro, também começam a se conhecer melhor, mais do que seus próprios ex parceiros, e construir uma relação totalmente nova. Essa relação, porém, não é bem vista por grande parte dos vizinhos da pequena cidade e de seus próprios filhos, que se mostram preconceituosos e egoístas. Os dois precisam decidir, então, até onde estão dispostos a ir para preservar essa nova parte de suas vidas. 

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Eu recebi o livro Nossas Noites de cortesia do Grupo Companhia das Letras e se isso não tivesse acontecido, talvez seria uma história que passaria batida por mim, por ser diferente do que eu estou acostumada a ler. Mas exatamente por isso, fico feliz por ter tido essa oportunidade. Gosto de sair da minha zona de conforto literária, ainda mais quando o resultado da leitura é bem positivo. 

O livro é curto e com vários espaços em branco e por ser predominantemente composto por diálogos, dá para ler de uma só vez. Não há uma demarcação clara dos diálogos, como o uso de travessões, e isso fez com que eu estranhasse um pouco no começo, mas logo me acostumei e a leitura ficou bem fluída. E como na maior parte do tempo as conversas acontecem entre poucas pessoas, é fácil distinguir quem e quando está falando. 

A história é um pouco lenta e sem grandes acontecimentos, puxando mais para um lado sensível e reflexivo e eu gosto muito disso, mas sei que não é o tipo de coisa que agrada todo mundo. Não consigo lembrar de outro livro que eu tenha lido em que os protagonistas fossem idosos e acho importante refletirmos um pouco sobre isso. Não é que não existam livros assim, mas eles não são tão comuns ou conhecidos. É como se apenas pessoas jovens pudessem protagonizar histórias que valem à pena serem contadas. 

"Quem imaginaria que, a essa altura da vida, nós ainda poderíamos ter algo desse tipo? Que afinal ainda existe, sim, espaço para mudanças e entusiasmos na nossa vida. E que nós ainda não estamos acabados nem física nem espiritualmente."

Às vezes, mesmo que inconscientemente, acabamos colocando um ponto final na vida antes que ela tenha de fato acabado. Eu faço isso, já me achando velha para fazer determinadas coisas ou como se eu tivesse até tal idade para realizá-las. E a verdade é que estamos cercados de exemplos que nos mostram exatamente o contrário, que sua vida é uma só e você precisa aproveitá-la da melhor maneira que puder, independentemente da sua idade. Talvez eu esteja filosofando demais nesse post, mas é porque esse livro realmente me tocou bastante nesse sentido. 

Eu terminei a leitura com um misto de felicidade e esperança, aquele famoso quentinho no coração que tanto falo por aqui, por toda essa mensagem otimista em relação à vida e ao futuro, e também tristeza. Infelizmente, também somos apresentados ao lado mais cruel e egoísta dos seres humanos, que querem ditar regras e controlar a felicidade alheia. 

Além dos boatos maldosos dos moradores da cidade, temos os filhos de Addie e Louis se posicionando contra o relacionamento por motivos baixos. E essa foi a pior parte para mim. Imaginar que uma pessoa a quem você dedicou toda sua vida, possa desejar qualquer outra coisa que não a sua felicidade. Uma pessoa que acha que você deve assumir seu papel de velhinho e ficar quietinho sendo um avô ou uma avó, cuidando do seu jardim ou de seus netos, enquanto espera que sua vida acabe. Como se você deixasse de ser uma pessoa para se transformar em uma ideia que os outros têm a respeito de você.

"Espero que sim. Eu falei para você que não quero mais viver daquele jeito — em função das outras pessoas, do que elas pensam, daquilo que elas acreditam. Não acho que seja uma boa maneira de viver. Não para mim, pelo menos."

É uma leitura que eu recomendo bastante para quem não se importa com narrativas mais lentas e que queira sair um pouco do convencional.

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Autor: Kent Haruf
Número de Páginas: 160
Editora: Companhia das Letras
Idioma: Português
Tradução: Sonia Moreira




Livro recebido de Cortesia do Grupo Companhia das Letras






Sinopse: Em Holt, no Colorado, Addie Moore faz uma visita inesperada a seu vizinho, Louis Waters. Viúvos e septuagenários, os dois lidam diariamente com noites solitárias em suas grandes casas vazias. Addie propõe a Louis que ele passe a fazer companhia a ela ao cair da tarde para ter alguém com quem conversar antes de dormir. Embora surpreso com a iniciativa, Louis aceita o convite. Os vizinhos, no entanto, estranham a movimentação da rua, e não demoram a surgir boatos maldosos pela cidade. Aos poucos, os dois percebem que manter essa relação peculiar talvez não seja tão simples quanto parecia. Neste aclamado romance, Kent Haruf retrata com ternura e delicadeza o envelhecimento, as segundas chances e a emoção de redescobrir os pequenos prazeres da vida que pode surpreender e ganhar um novo sentido mesmo quando parece ser tarde demais.

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