Resenha: Amando e Morrendo - Uma visão buddhista sobre a morte

Um livro sobre a vida, sobre o amor e sobre viver e morrer com um sorriso nos lábios.
~ Um dia quando eu morrer, como deve acontecer, gostaria de morrer com um sorriso em meus lábios. Gostaria de partir pacificamente, cumprimentar a morte como um amigo e ser capaz de dizer muito alegremente: “Alô Morte, Adeus Vida”.
Visu nasceu na Malásia e foi monge budista durante 17 anos. Durante sua vida presenciou muitas mortes e esteve presente para consolar e apoiar aqueles no leito de morte e os familiares que ficaram depois de ver seus entes queridos partirem.
Neste livro para leigos ele conta sobre esses encontros, e numa escrita amorosa e sensível revela o que faz um monge buddhista e o que pensa um ser humano nascido numa cultura asiática permeada pelos ensinamentos do Buddha.
Este livro fala sobre a preparação para morte, a recuperação após a morte de um ente querido, o luto, sobre a doença e o envelhecimento, sobre o que em vida podemos fazer e sobre como aqueles que sobrevivem ao falecimento de um ente querido podem levar sua vida adiante.
Mas este livro não fala apenas sobre a morte. Ele fala sobre a vida, sobre o amor sem limites e sobre viver e morrer com um sorriso nos lábios.


Número de páginas: 110
Autor: Visu
Editora: Edições 
Nalanda
Idioma: português



Já comentei algumas vezes aqui no blog que tenho me interessado pelo Budismo. Religiões "convencionais" não funcionam muito para mim (mas eu respeito todas as crenças) e encontrei na filosofia budista muitos pensamentos que se compatibilizam com os meus. 

Recentemente, enfrentei a perda de uma pessoa próxima e isso mexeu muito comigo, porque já vinha de um período de instabilidade emocional por conta de outras coisas que aconteceram esse ano. Resolvi então buscar nesse livro não algo que me confortasse, mas que me desse talvez uma outra visão sobre a morte. Não posso falar que terminei a leitura pensando de um modo totalmente diferente do que quando a iniciei, mas acredito que algumas sementinhas sobre uma nova forma de encarar não só a morte, como também a vida, foram plantadas na minha mente.

A principal mensagem (no meu leigo ponto de vista) do Budismo e desse livro é a respeito da impermanência. Tudo é impermanente: os acontecimentos bons, os ruins e até mesmo nossos corpos e mentes. Nós sofremos porque nos apegamos a coisas que estão se modificando a todo momento e não queremos que isso aconteça. Geralmente desejamos que tudo é agradável e que amamos permaneça exatamente da mesma maneira para sempre. Somente quando aceitarmos esse fato seremos capazes de acabar com o sofrimento. Isso é algo em que venho trabalhando muito, mas ainda estou um pouco longe de conseguir alcançar esse desapego, principalmente com os acontecimentos ruins. Tenho uma forte tendência de não enxergar "a luz no fim do túnel", de achar que nunca vai passar, mesmo racionalmente sabendo que vai. 

Durante o livro o autor nos relata algumas experiências relacionadas à morte com as quais teve contato nas suas quase duas décadas como monge budista, sempre trazendo valiosas lições de pessoas que conseguiram aceitar seu destino e partir da forma mais tranquila possível. Visu também aborda o sofrimento das pessoas próximas àquela que faleceu. Ele não fala sobre nenhum comportamento ideal, pois sabe que cada um reage de uma forma, mas procura aconselha as pessoas que estão de luto o chamado estado de vigilância. Esse estado geralmente é atingido através de exercícios de meditação e contemplação do nosso interior. 


Vigilância e entendimento é o caminho do meio e o caminho melhor - não envolve nem supressão nem entregar-se às emoções negativas e destrutivas. Vigilância é o reconhecimento e a observação, a partir dos quais surge entendimento, aceitação, reconciliação e sabedoria. Não negamos ou suprimimos nossas emoções. Reconhecemos e observamos nossas emoções. (...)
Haverá calma, aceitação e entendimento. Mesmo se viermos a perder o controle e chorar, poderemos fazer isso de uma forma mais contida. Eventualmente reconquistaremos nosso controle e ficaremos tranquilos. A vigilância virá em nosso auxílio, e nos ajudará a nos reconciliarmos com nossa tristeza. 

O autor é um pouco detalhista e repetitivo quando descreve como deveríamos nos portar em algumas ocasiões, como na organização de um funeral, o que por vezes acaba sendo cansativo e fazendo mais sentido para quem já é praticante do budismo. Mas mesmo assim acho que todos podem tirar algumas dicas valiosas. Eu gostei muito de uma sugestão que ele deu: fazer uma cerimônia mais modesta e doar o dinheiro que seria gasto para instituições de caridade, já que a pessoa que faleceu não conseguirá levar nada material para sua próxima vida (os budistas acreditam na reencarnação, já eu ainda não sei o que penso sobre isso). 

Apesar de ser um livro sobre a morte, em momento nenhum seu tom é triste e ele ainda traz importantes reflexões sobre o amor e a nossa própria vida, como podemos agir para torná-la mais significativa para nós mesmos e quem está a nossa volta. 

Acredito que é uma leitura que possa ser apreciada por diferentes tipos de leitores, mesmo os que possuem alguma religião, pois sempre que o autor entra em temas religiosos, é de uma forma muito respeitosa, tentando ressaltar os pontos positivos e mostrar que elas têm muito mais em comum do que se pensa. 

É claro que alguns valores, tais como aqueles do amor e da compaixão, são universais. Eles não pertencem a nenhuma religião, mas a todas. Todas as religiões ensinam o amor e a compaixão. Todas são boas religiões.


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